29 de Setembro de 1964<br> – Nasce a <i>Mafalda</i>

Quando a pri­meira tira apa­receu na re­vista «Pri­mera Plana», há mais de meio sé­culo, nin­guém es­pe­rava que as his­tó­rias da Ma­falda ir­re­ve­rente e con­tes­ta­tária per­cor­ressem o mundo em 26 lín­guas e per­ma­ne­cessem vivas muito para além do seu de­sa­pa­re­ci­mento. Fruto da ima­gi­nação e arte de Jo­aquín La­vado «Quino», um ar­gen­tino pobre de Men­doza que aos 18 anos chegou a Bu­enos Aires com uma pasta de de­se­nhos de­baixo do braço, Ma­falda des­pediu-se dos seus lei­tores em Junho de 1973, mas a uni­ver­sa­li­dade das suas crí­ticas so­ciais e po­lí­ticas tor­naram-na imortal. For­çado a exilar-se em 1976 na sequência do golpe de Es­tado de Ra­fael Vi­dela que mer­gu­lhou a Ar­gen­tina numa feroz di­ta­dura mi­litar, Quino, para quem o humor «é aquele pe­queno grão de areia com o qual con­tri­buímos para que as coisas mudem», não ten­ciona res­sus­citar a Ma­falda porque, afirma, «res­sus­citá-la seria dizer que está morta, e nin­guém du­vida que ela es­teja bem viva, por sorte». Ou seja, a men­sagem per­ma­nece ac­tual, como disse numa en­tre­vista ao Pá­gina/​12: «Se pen­sarmos que o cris­ti­a­nismo levou três sé­culos para se impor, por que não po­demos pensar que o so­ci­a­lismo vol­tará e que fi­nal­mente po­de­remos viver em um sis­tema mais justo e mais hu­mano para todos?»